quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Diálogo Saraus com o secretário municipal de cultura Juca Ferreira

SecretárioJuca

Carta direcionada ao Secretário Juca Ferreira com propostas de Políticas Públicas Culturais para a Periferia, assinada por vários coletivos e saraus.

Caro Juca!

Primeiramente queremos saudar o Dia Mundial do Hip Hop, comemorado hoje, como primeiro movimento cultural e artístico marcadamente jovem e negro que a partir das periferias de São Paulo arrebatou as periferias de todo o Brasil e hoje é apoiado por milhares de manos e manas que falam com a própria voz!

Ainda vivemos numa cidade repleta de contradições. A cultura e suas mil e uma linguagens artísticas têm cada vez mais assumido um compromisso em transformar para melhor está cidade incrível. São Paulo concentra a maior riqueza do país e ao mesmo tempo é muito desigual: dos cerca de doze milhões de habitantes, quase nove milhões vivem nas periferias da cidade. Enquanto que no Centro, onde está o marco zero da cidade, do alto da riqueza é possível avistar também muita pobreza. O que não é possível é ficar indiferente a estas desigualdades que atingem a todos e todas, mas de forma diferente e aqui é importante destacar a violência policial que impede que jovens negros, pobres e das periferias tenham o direito de atingir uma vida adulta assegurada por direitos, inclusive o do protagonismo. Violência que tem exposto também as jovens e as mulheres a situações de abandono e risco. É neste contexto e com profundo desejo de transformação que viemos aqui para este primeiro Diálogo Saraus propor:

1) Que a SMC-Sec. Municipal de Cultura reconheça a contribuição que os Saraus Periféricos vem promovendo há pouco mais de uma década na cena cultural e artística da cidade de SP e que este reconhecimento seja efetivado nas políticas de fomento, de recursos, incentivos e premiações, etc.

2) Através da SMC os Saraus possam dialogar também com as secretarias de Educação e Direitos Humanos, numa lógica intersetorial, uma vez que além da dimensão cultural, os saraus, na sua transversalidade, também colaboram para a formação educativa e promoção de direitos.

3) A ampliação do Programa “Literatura Periférica: Veia e Ventania nas bibliotecas de São Paulo”, bem como inserir os saraus como atividades nas escolas públicas, CEUs, bibliotecas comunitárias e pontos de leitura formal e não-formais.

4) A contratação de novos profissionais para as bibliotecas, não apenas bibliotecários, formação continuada e capacitação transversal para as equipes.

5) A criação de um programa de aquisição de livros produzidos pela Literatura Periférica (para além das cotas do VAI), como as antologias de saraus, inserindo a Literatura Periférica como uma vertente de interesse público, bem como a circulação dos autores e autoras para apresentar seus processos criativos.

6) Fomento a produção independente feita pelos coletivos de saraus: livros, vídeos, e outras atividades que dialoguem com a literatura.

7) Que os coletivos possam oferecer também formação cultural para a comunidade nos equipamentos públicos em forma de cursos, oficinas, palestras, etc.

8) Implantação do PMLL-Plano Municipal do Livro e da Leitura na atual gestão com a realização de oitivas descentralizadas em espaços formais (CÉUS e bibliotecas públicas) e não-formais (saraus, espaços e bibliotecas comunitárias na periferia).

9) Criação de convênios entre saraus e programas educativos como MOVA, EJA e Educação Popular.

10) Criação de uma Cartografia Cultural das Periferias, com versão impressa e divulgação mensal, no formato de um guia e também digital, por meio de uma plataforma de cadastro aberto e colaborativo.

Nesta ocasião, não poderíamos deixar de reivindicar também que se abra um diálogo imediato com os coletivos e participantes dos espaços culturais ocupados por coletivos que exercem um papel de ponto cultural, sobretudo nas periferias da cidade.

Uma cidade com contradições proporcionais a dimensão de São Paulo precisa de um orçamento para investimentos a altura dos desafios para enfrentar as desigualdades e aqui destacamos a necessidade de no mínimo 2% para a Sec. Municipal de Cultura cumprir sua missão de promover políticas públicas culturais mais inclusivas.

Transformar a cidade de São Paulo numa cidade mais justa e igualitária só é possível se o poder público fizer a opção de assumir para si essa tarefa também!

São Paulo, 12 de novembro de 2013.

PERIFERIA PRESENTE!

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